01.07.2016

Vinhos com sabor a Natureza. Culturas biodinâmicas e orgânicas são o futuro.

Os vinhos eco-responsáveis, feitos através da vitivinicultura orgânica ou biodinâmica, estão a conquistar, progressivamente, os mercados. Portugal não é excepção e os raros dados disponíveis referem que há uma década atrás era um país líder no cultivo de vinhedo orgânico. E não é por acaso que isto sucede. Além de os vinhos serem de grande qualidade, mais  inofensivos para a saúde e respeitadores do ambiente, enaltecem as tradições ancestrais, recuperando saberes antigos.

O que é o vinho orgânico e como se produz? No embalo da Mãe-Natureza. No seu regaço, sem recursos a nada que não seja a própria a oferecer. Senão vejamos: as uvas são cultivadas sem agrotóxicos, sem sulfitos, fungicidas, fertilizantes ou outros compostos químicos. Desde a plantação, aragem e colheita tudo é feito da forma mais natural possível, com recurso apenas a produtos vegetais e minerais. A protecção obedece a alguns truques: os pássaros em casas próprias para comerem os insectos nocivos, cumprindo o papel de guardiões dos vinhedos, o alerta da flor (com a plantação das rosas) a ditar os ritmos do desenvolvimento das vinhas, minhocários ou a composição de adubo natural, obtido através das fezes animais.

Há quem solte joaninhas para matar outras pragas ou use preparados à base de ervas medicinais. Não se usam rolhas sintéticas nem plásticos. A cortiça volta a estar na moda. Por todo o mundo, esta harmonia tem sido posta em prática, desde a marca francesa Chapoutier, o champanhe Fleury, a Domaine de la Romanée Conti, na Borgonha, Domaine Lefraive, do Velho Museu, no Brasil, Vida Orgânica, da família italiana Zuccardi, o vinho Pingus em Espanha, entre muitos outros. Os exemplos notáveis são muitos e cada vez mais abundantes, supervisionados pelo Instituto Biodinâmico Demeter.

Há técnicas reconhecidas como a fermentação natural de leguminosas, que aumentam a matéria orgânica da terra e é imprescindível o controlo rigoroso da água usada, a fim de evitar o aparecimento excessivo de fungos. Dizem os conhecedores que "o vinho orgânico sem agrotóxicos tende a ser mais aromático, além de preservar as antigas vinhas, o seu solo calcário e os seus microclimas peculiares". Todas as técnicas juntas são garante de sucesso, uma vez que os fungos naturais ajudam à fermentação do mosto, o que faz com que, ao ser aberta, a garrafa exale todos os aromas que lhe deram corpo. O uso de produtos químicos matam estes fungos essenciais, anulando a riqueza aromática.

Em Portugal, em 1999, já havia 888 hectares de vinho orgânico, o que lhe conferia o terceiro país europeu com maior área, a seguir a Espanha e a França. Segundo o Eurostat, com dados de 2005, as estatísticas portuguesas continuam a liderar, muito embora os estudos reportem à agricultura em geral, a média da fatia orgânica portuguesa era de 6,3%, muito superior à da europa em geral, que se situava em 3,9%. Estima-se portanto que a área de vinha orgânica tenha crescido ao mesmo ritmo.

Portugal está, de resto, no ranking dos países europeus que mais vinho produzem. Relativamente à idade da vinha, 68% das explorações têm plantações com mais de 30 anos e 44% com mais de 70 anos, expressando uma actividade com raízes temporais profundas e, ao mesmo tempo, um elevado grau de envelhecimento e consequente necessidade de reestruturação.

A nível internacional, um dos reis destes vinhos amigos da Natureza foi o Nativas Cabernet Sauvignon 98, mas muitos outros produtores seguiram o mesmo rumo. A vitivinicultura biodinâmica é outras das opções verdes. O "papa" do melhor vinho feito nesta corrente orgânica, é Nicolas Joly. Em Portugal, o Casal da Figueira e o da Cara Mouraz, do Dão, foram exemplos do início da disseminação das práticas ecológicas aplicadas ao vinho. A biodinâmica ganhou grande expressão em 2001, quando especialistas franceses vieram dar um dos primeiros cursos da área.

Do resultado dessa visita, transcrevemos o seguinte excerto, publicado na altura; "Adubos verdes, semeando plantas como o tremoço e a aveia; as podas seguem o calendário biodinâmico (baseado na astronomia); a erva é cortada, sem mobilização de solos. Prática que permite o aparecimento de flora espontânea, como o trevo e a sarradela. Protege o solo da erosão, mantém alguma humidade e, não menos importante no Dão, ajuda a controlar o vigor da vinha. Com consequências óbvias na maturação e qualidade das uvas. A concorrência à superfície obriga as cepas a procurar alimento mais fundo. O que também influencia as características do solo, da rocha mãe de cada parcela, que passam para o vinho. Os tratamentos baseiam-se na utilização de argilas, algas marinhas e outros produtos naturais. Enfim, todo um somatório de práticas que, aliadas a um ano favorável no Dão, projectam o vinho biológico para um novo patamar. Uma prova que não deixará de surpreender apreciadores (...e produtores) ainda pouco convencidos sobre o mérito de uma agricultura tão exigente".

A AGRIDIN, Associação Profissional para o Desenvolvimento da Agricultura Biodinâmica e Biológica, leva a dianteira em Portugal, estabelecendo várias parcerias com a Vini Vitis Bio, disseminando congressos e formações, com convidados estrangeiros. É uma associação profissional, sem fins lucrativos, de âmbito nacional, que tem por objecto a divulgação e promoção do desenvolvimento e prática da Agricultura Biodinâmica tal como foi concebida por Rudolf Steiner e desenvolvida pelos seus seguidores. Nesse âmbito a AGRIDIN tem o estatuto de "guest member" junto da DEMETER - Internacional.

Esta associação está, recentemente, a fazer um inquérido aos vitivinicultores, a fim de apurar números e dados mais recentes. Até agora, o panorama é este: a biodinâmica entrou tarde em Portugal, mas enraizou-se definitivamente. A biodinâmica é o futuro. Há especialistas que afirmam que, dentro de 50 anos, todas as vinhas serão biodinâmicas. Quem não se adaptar, ficará para trás.

A lei da Natureza

Segundo a explicação da AGRIDIN, o princípio da biodinâmica é cósmico: "Só o conhecimento das leis da Natureza, dos seus tempos de actuação, dos seus ritmos e reacções, uma compreensão profunda das manifestações da vida em todos os seus reinos e uma devoção séria mas realista à actividade agrícola e às pessoas a quem ela se destina, pode produzir produtos de qualidade. E qualidade é a palavra-chave na Biodinâmica. Qualidade na produção, qualidade na distribuição, qualidade no consumo, qualidade ambiental, enfim qualidade de vida. A Terra é um Ser Vivo e não está só no Universo. Como qualquer ser vivo, tem um corpo (que se manifesta nos vários reinos da Natureza), um organismo onde ocorrem processos e funções (digestiva, respiratória, circulatória e outros) que trabalham ritmicamente sob uma orientação sábia para a manutenção do todo. Mas como Ser Vivo que é, também possui capacidade de reacção a qualquer estímulo ou perturbação originada no exterior ou no seu interior. A Terra tem consciência que necessita de manter um equilíbrio dinâmico com o Sol, a Lua, os Planetas e entidades estelares para além de um equilíbrio interno, ecológico!