02.05.2016

Vinho a copo: um meio para conquistar o futuro

Em 2008, o estudo estratégico da ViniPortugal sobre a Promoção do Vinho Português no Mercado Nacional apontava com clareza uma "tendência possível": o consumo do vinho a copo. E, mais do que uma tendência, o estudo exprimia uma quase urgência para que produtores e restauração apostassem neste segmento como forma de conquistar mais (e mais fiéis) consumidores. Quase três anos volvidos sobre a publicação do estudo, é quase impossível sair de casa e não "tropeçar" na oferta de vinho a copo. A adesão dos portugueses está longe de ser incondicional, mas ninguém (produtores, restaurantes, bares) parece estar disposto a desistir da oferta do vinho a copo.

Terá começado em meados da década passada a abertura da oferta ao vinho a copo e agora é quase universal. Longe de universal está, porém, procura. Nesse estudo referia-se que apenas cerca de 20 por cento dos inquiridos (entre consumidores e os chamados "wine lovers") aderiria sempre ou frequentemente a esta oferta - em oposição de 48 por cento que raramente ou nunca o faria. A maior aceitação vem do segmento de idades entre os 46 e os 55 anos (20 por cento), contra apenas 14 por cento dos mais jovens; mais por parte do público masculino do que do feminino. Estas reacções estão ancoradas em vários motivos: primeiro, "sai caro" (algo valorizado, sobretudo, pelos mais jovens); depois vêm a falta de qualidade, do ritual da garrafa, falta de sentido quando se está só e uma razão bastante simples, não gostam. Contudo, são apontadas também vantagens, entre elas a facilidade de experimentar novos vinhos e as possibilidades de beber bom vinho a um preço razoável e de simplesmente beber vinho quando uma garrafa é de mais.

Restaurantes e bares estão cada vez mais apostados na oferta de vinhos - e de vinho a copo. Há listas de vinhos variadas, tentando abranger os vários espectros de gosto, em cada vez mais locais, sobretudo naqueles que apostam na criação de "happy hours" e na implementação do hábito de consumo no período pós-laboral e pré-jantar - todos fazem a comparação com a vizinha Espanha onde esta dinâmica está bastante mais enraizada. Os preços estão quase sempre entre o €1,50 e os €2, o que ainda assim está acima das expectativas dos consumidores "correntes": a maioria dos inquiridos (30 por cento) no estudo da ViniPortugal está "disposto" a pagar €1 por um copo de vinho numa "ocasião normal", embora em "ocasião especial" a maioria estivesse disposta a pagar entre €4 e €5.

E se neste estudo para a promoção do vinho português o vinho a copo era apontado como uma tendência - por razões económicas, de saúde, rodoviárias e variedade ao longo das refeições - outra das tendências previstas era a do vinho "associado a novas ocasiões" - bares, discotecas, festas e happy hours", essencialmente redutos de jovens. Um segmento a explorar, aconselham, uma vez que estes são os "potenciais consumidores" de vinho. Afinal, "em adulto ou se é ou não consumidor regular de vinho" - e um estudo, publicado nos EUA, sobre a "millennial generation" (entre os 16 e os 30 anos, a geração com o mais alto nível de escolaridade da história e a mais receptiva à inovação) indica que entre esta, o consumo de vinho está a aumentar.

Por isso, quando se fala em públicos no estudo, a grande aposta é a da geração dos 20/30 anos, para que à medida que a idade passa o consumo de vinho deixe de ser um hábito quase social e se torne um hábito diário. E para conquistar essa geração o vinho a copo é a "arma". Na restauração, uma das propostas é, por exemplo, a oferta do primeiro copo de vinho, e depois vem a necessidade de se implantar o vinho "na noite" (onde, claramente, revela o mesmo estudo, ainda não é uma bebida comum, seja em bares ou discotecas), para substituir as bebidas destiladas - "vinho é juventude", clamam. Ainda há um longo caminho a percorrer no campo do vinho a copo, mas já está tudo a mexer: a oferta mais, a procura vai-se sedimentando embora lentamente, dizem, optimistas q.b. os donos de bares, sobretudo. É um público que se quer ganhar, uma moda que se quer impor, um futuro que se quer ganhar.